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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

ESTRONGILOIDÍASE

O homem é infectado por Strongyloides stercoralis, que possui em seu ciclo vital machos e fêmeas capazes de viver no solo; mas outra parte do ciclo é obrigatoriamente parasitária e tem por hábitat a parede intestinal. A doença é denominada estrongiloidíase, estrongiloidose ou anguilulose. As infecções leves são assintomáticas, as demais produzem quadros de enterite ou de enterocolite crônica que chegam a ser graves ou fatais, se houver imunodepressão.


MORFOLOGIA


As fêmeas parasitas são partenogenéticas, podendo haver multiplicação e auto-infestação no mesmo hospedeiro, e produzem larvas que, saindo para o meio externo, dão machos e fêmeas de vida livre. Estas, por sua vez, põem ovos e originam nova geração de larvas. Estudos mostraram que os machos participam do processo reprodutivo apenas parcialmente, sendo necessária a cópula e a penetração de espermatozóides para que os oócitos das fêmeas de vida livre embrionem, mas não há fusão do núcleo masculino com o do oócito (pseudogamia). A reprodução da fêmea de vida livre é, portanto, por partenogênese meiótica.
Tanto a morfologia como a biologia desses nematóides variam de acordo com a fase do ciclo em que se encontrem



Fêmea partenogenética: Possui corpo cilíndrico com aspecto filiforme longo; Extremidade anterior arredondada e posterior afilada; Aparelho digestivo simples com boca contendo três lábios; A larva, rabditóide, que é frequentemente libertada ainda no interior do hospedeiro, torna-se a forma evolutiva de fundamental importância no diagnóstico; Fêmea ovovivípara, pois elimina na mucosa intestinal o ovo já larvado.

Fêmea de vida livre: Apresenta cutícula fina e transparente, com finas estriações; Possui aspecto fusiforme, com extremidade anterior arredondada e posterior afilada

Macho de vida livre: Possui aspecto fusiforme, com extremidade anterior arredondada e posterior recurvada ventralmente; Apresentam dois pequenos espículos, auxiliares na cópula, que se deslocam sustentados por uma estrutura quitinizada denominada gubernáculo

Ovos: São elípticos, de parede fina e transparente, praticamente idênticos aos dos ancilostomídeos; Podem ser observados nas fezes de indivíduos com diarréia severa ou após utilização de laxantes.

Larva rabditóide: Apresentam cutícula fina e hialina; Nas formas disseminadas, são encontradas na bile, na urina, no escarro, nos líquidos pleural, duodenal e cefalorraquidiano; Se mostram muito ágeis com movimentos ondulatórios, quando visualizadas a fresco.

Larva filaróide: Apresentam cutícula fina e hialina; Podem ser vistos no meio ambiente e podem evoluir no interior do hospedeiro, ocasionando os casos de auto-infecção interna; É a forma infectante do parasito (L3), capaz de penetrar pela pele ou pelas mucosas; Porção anterior é ligeiramente afilada e a posterior afina-se gradualmente, terminando em duas pontas, conhecida como cauda entalhada, que a diferencia das larvas filarióides de ancilostomídeos, que é pontiaguda;


CICLO BIOLÓGICO


Algumas larvas rabditóides de primeiro estádio (quer produzidas por fêmeas de vida livre, quer por fêmeas parasitas - partenogenéticas -) eliminadas nas fezes, em lugar de produzirem outras de segundo estádio, passam a evolui para um tipo diferente, denominado larva filarióide (infectante). Essas larvas são bastante ativas e podem permanecer vivas durante cinco semanas. Mas elas só completam seu ciclo evolutivo se encontrarem um hospedeiro adequado e nele penetrarem através da pele. Depois de atravessar o tegumento as larvas alcançam a circulação venosa e realizam um ciclo que passa primeiro pela aurícula e ventrículo direitos do coração; depois pelas artérias pulmonares e rede capilar dos pulmões. Perfurando a parede dos capilares, chegam aos alvéolos e bronquíolos, onde os movimentos do epitélio ciliado promovem seu transporte passivo, junto com as secreções brônquicas, até a traquéia e a laringe, para serem deglutidas em seguida. Durante o ciclo pulmonar, completa-se a evolução larvária (comportando duas mudas) e, ao chegarem à cavidade intestinal, os vermes adultos estão formados.
No intestino, encontram-se apenas fêmeas. Elas são diferentes das fêmeas de vida livre, e sua capacidade de reprodução partenogenética estabelece a infecção a partir de uma única larva. O hábitat destas fêmeas filarióides partenogenéticas é a mucosa do intestino, especialmente no duodeno e jejuno. Aí perfuram o epitélio e se alojam na espessura da mucosa, onde se movem, alimentam-se e fazem suas desovas. Dos ovos, já embrionados, saem imediatamente larvas rabditóides que se dirigem para a luz do intestino, misturam-se ao bolo alimentar e são expulsas com as fezes do paciente.
*A partir das larvas rabditóides eliminadas com as fezes, duas possibilidades evolutivas existem:
1. Em alguns caos, essas larvas, no meio exterior, sofrem muda pela qual se transformam em larvas filarióides infectantes, capazes de penetrar em outro individuo e iniciar novo ciclo parasitário. Por essa razão, este é conhecido como ciclo direto do parasitismo. Ele pode ter lugar tanto no solo como sobre a pele da região perianal do paciente.
2. Em outros casos, as larvas rabditóides das fezes podem sofrer suas várias mudas no solo e produzir, ao fim de algum tempo, machos e fêmeas de vida livre. Depois da cópula, as fêmeas põem ovos de onde saem larvas rabditóides (semelhantes produzidas pelas fêmeas parasitas) que evoluem finalmente para larvas filarióides infectantes, as quais retornam ao parasitismo. Esse é o ciclo indireto.


TRANSMISSÃO:


Hetero ou Primoinfecção: Larvas filarióides infectantes (L3) penetram usualmente através da pele (não tendo preferência por um ou outro ponto do tegumento), ou, ocasionamente, através das mucosas, principalmente da boca e do esôfago;
Auto-Infecção Externa ou Exógena: Larvas rabditóides presentes na região perianal de indivíduos infectados transformam-se em larvas filarióides infectantes e aí penetram, completando o ciclo direto;
Auto-Infecção Interna ou Endógena: Ainda na luz intestinal de indivíduos infectados, larvas rabditóides transformam-se em larvas filarióides, que penetram na mucosa intestinal (cólon ou íleo). Esse mecanismo pode cronificar a doença por vários meses ou anos.



PATOGENIA, PATOLOGIA E SINTOMATOLOGIA


As lesões devidas ao Strongyloides relacionam-se com a penetração do parasito no hospedeiro; com sua migração durante o ciclo pulmonar; com sua permanência e multiplicação na mucosa intestinal ou em localizações ectópicas. As principais manifestações clínicas são dor abdominal, diarréia e urticária, com eosinofilia, dentre outras: Pele:alergia recorrente, erupções eritematosas, papulosas e pruriginosas no local de penetração da larva. Migração de larvas:sintomas primários pulmonares; pneumonia brônquica verminosa. Intestino:dor abdominal, diarréia e constipação, vômitos, perda de peso, anemia variável, eosinofilia, perda protéica enteropática. Freqüentemente assintomática em infecções leves; em geral, não há lesões extensas; intestino edematoso e congesto em infecções pesadas;

DIAGNÓSTICO

Visto que esta parasitose produz síndromes pulmonares e digestivas comuns a outras doenças, o diagnóstico clínico é incerto, são necessários então exames laboratoriais para confirmar o diagnóstico.
Exames coproscópicos: podem ser encontradas as larvas rabditóides de Strongyloides stercoralis, mas não os ovos que eclodem logo depois da oviposição, ainda na mucosa intestinal.
Extração das larvas de massa fecal: é feita com água tépida e baseada no hidrotropismo e termotropismo desses organismos, como ocorre no método de Baermann, no de Rugai e similares. Esses métodos caracterizam-se pela simplicidade e rapidez de execução, dando resposta dentro de uma ou duas horas e sua eficiência decorre do uso de volumes relativamente grandes de material fecal, colocada sobre uma tela forrada de gaze e posta em contato com a água.
Coprocultura: é feita pelo método de Harada-Mori (em tubos de ensaio) ou pelo método de Baermann de cultivo sobre carvão ativado em placas fechadas, que requerem menores quantidades de fezes e se adaptam melhor aos inquéritos parasitológicos de massa.
Testes imunológicos: proporcionam boas indicações para o diagnóstico desta parasitose, mas a confirmação pelo encontro das larvas é essencial. O teste de ELISA, feito com antígeno de S. ratti, permite reconhecer a maioria dos casos de parasitismo, mas dá reações cruzadas com ascaridíase e, sobretudo, ancilostomíase


EPIDEMIOLOGIA


A estrongiloidíase é cosmopolita. Nas regiões endêmicas, a única fonte de infecção é o homem, segundo as evidências atuais, ainda que cães, gatos e outros animais possam infectar-se com S. stercoralis e apresentar um parasitismo transitório. A contaminação do solo resulta do hábito de defecar no chão. Mas, para que as larvas rabditóides sobrevivam no solo, desenvolvam-se ate vermes adultos (machos e fêmeas de vida livre) e estes se multipliquem, são necessárias condições, como por exemplo, o terreno ser poroso, rico em matéria orgânica e conter certo grau de umidade.
Os fatores que influenciam no aparecimento, na manutenção e propagação da estrongiloidíase são: presença de larvas infectantes originárias do ciclo direto e de vida livre, no solo; presença de fezes de homens ou animais infectados, contaminando o solo; solo arenoso ou areno-argiloso, úmido e com ausência de luz solar direta; não utilização de calcados; condições sanitárias e hábitos higiênicos inadequados; contato com alimento contaminado por água de irrigação poluída com fezes


PROFILAXIA


Para consolidar os resultados de um bom programa de controle, é necessário mudar o comportamento da população em relação à educação sanitária de forma a reduzir a poluição do meio e a reinfecção dos habitantes, em cada domicílio. Alguns hábitos devem ser implantados profilaticamente por crianças e adultos que delas cuidam, tais como uso de instalações sanitárias adequadas por todos os moradores da residência; lavagem cuidadosa de frutas e legumes, antes de consumi-los crus; proteção dos alimentos contra poeiras, insetos e outros animais que possam ser vetores mecânicos de ovos de helmintos, bem como a proscrição da matéria fecal humana como adubo


TRATAMENTO

Albendazol; Ivermectina; Tiabendazol























BIBLIOGRAFIA


  • NEVES, David P. [et al]. Parasitologia humana. 11 ed. São Paulo: Atheneu, 2005.

  • REY, L. Bases da parasitologia médica. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

















ACADÊMICA: Karen Quevedo

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